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Uma vez alguém me disse que é importante ter um lugar onde se possa despejar tudo o que se pensa. Seja no psicólogo, pra um cachorro, uma tia velha surda, um diário, um site.... desse modo você estaria poupando as pessoas de ouvirem isso. Esse blog segue essa filosofia

Thursday, September 21, 2006

Betsaida - O heavy metal ao Senhor

Nenhuma placa informa quem passa pela avenida Beira-Rio, em Tubarão, próximo à rodoviária antiga, que aquela velha construção de concreto e pedra é mais uma entre as tantas casas evangélicas do Senhor.

Na porta de entrada uma cortina escura ofusca a luz fluorescente que sai da sala principal, onde dez jovens de roupa preta e cabelo comprido conversam descontraídos à espera do pastor. À frente deles, um palco com guitarras, amplificadores e bateria ocupa o lugar destinado em outros templos ao altar. Sobre o chão de cerâmica e entre as paredes negras, cinco fileiras de cadeiras de plástico, dessas de barzinho, ainda se encontram vazias.

É a Igreja Betsaida (casa de pesca em Hebraico), fundada em 2003 pelo engenheiro civil e pastor Edson Zaneripe, um senhor de 46 anos, cabelos longos e cavanhaque. Os fiéis são fãs de metal e “undergrounds” em geral, que discriminados por outras igrejas, na Betsaida encontram Jesus sem precisar cortar as madeixas ou arrancar os piercings.

Com a Bíblia aberta em uma passagem de Salomão o estudante do Colégio São José, Edson Mendes Jr, 16 anos, dá início ao encontro assim que o Pastor Edson chega ao local. “Deus, muito obrigado pela nossa vida, perdoai-nos daquilo que fazemos e daquilo que pensamos. És muito poderoso, te manifeste aqui nesta noite Pai! Muito obrigado por tudo!”, reza o estudante que freqüenta a igreja há dois anos.

O culto segue animado. Orações individuais, coletivas, murmúrios abafados ao fundo. “Deus, você é lindo!”, grita uma jovem. Próximos à porta, dois adolescentes caminham solitários de um lado para o outro. De olhos fechados, como que em transe, mechem os lábios, mas não é possível ouvir o que eles falam. As preces só são interrompidas quando o pastor inicia uma reza para angariar recursos para a nova sede da igreja em Criciúma. “Deus, abra os corações de teus filhos para que eles nos ajudem a construir a tua casa”, diz o pastor enquanto alguns fiéis já se levantam rumo à cestinha do dinheiro.

A acadêmica de Direito da Unisul, Cristine Balsini, 21, é uma das fiéis a contribuir. Na igreja há dois anos, ela conta que antes de entrar na Betsaida chegou a ficar meses sem sair de casa com depressão. “Quando eu vim aqui e Deus falou comigo eu melhorei. Uma motivação nova para viver era tudo que eu precisava”, afirma. Já para a filha do pastor, a aluna do 3o ano da Escola Jovem, Franciele de Souza, 17 anos, comparar a vida antes e depois da igreja é impossível. “Sempre fomos ligados à religião então não tem como eu dizer o que mudou”, comenta a estudante que aos 14 anos pensou em deixar de ser evangélica. “Acho que é normal né, todo mundo nessa idade tem crise”.

A família de Franciele sempre participou de movimentos religiosos. O pastor Edson explica que a Betsaida surgiu para “pescar” jovens que poderiam “se perder” por não serem bem vistos na maioria das igrejas, mas que ela segue os ensinamentos convencionais de outras instituições evangélicas. “Seguimos o que diz a Bíblia, assim como outras religiões cristãs. A diferença é que nós não nos importamos com o jeito de ser da pessoa. É idiotice ligar se ela tem tatuagem, gosta de metal, é cabeludo e veste preto. Se vestisse rosa diriam que é coisa de boiola”, comenta rindo o pastor, que afirma que a igreja não condena os homossexuais, mas também não aprova a conduta. “Recebemos os homossexuais de braços abertos e fazemos o possível para ajuda-los a mudar de vida e encontrar o caminho de Deus”.

A Betsaida conta hoje com cerca de 30 membros em Tubarão e outros 15 em Criciúma. A maioria entre 15 e 25 anos, grande parte deles com histórico de depressão.

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