depósito 86

Uma vez alguém me disse que é importante ter um lugar onde se possa despejar tudo o que se pensa. Seja no psicólogo, pra um cachorro, uma tia velha surda, um diário, um site.... desse modo você estaria poupando as pessoas de ouvirem isso. Esse blog segue essa filosofia

Monday, December 25, 2006

Thursday, September 21, 2006

Betsaida - O heavy metal ao Senhor

Nenhuma placa informa quem passa pela avenida Beira-Rio, em Tubarão, próximo à rodoviária antiga, que aquela velha construção de concreto e pedra é mais uma entre as tantas casas evangélicas do Senhor.

Na porta de entrada uma cortina escura ofusca a luz fluorescente que sai da sala principal, onde dez jovens de roupa preta e cabelo comprido conversam descontraídos à espera do pastor. À frente deles, um palco com guitarras, amplificadores e bateria ocupa o lugar destinado em outros templos ao altar. Sobre o chão de cerâmica e entre as paredes negras, cinco fileiras de cadeiras de plástico, dessas de barzinho, ainda se encontram vazias.

É a Igreja Betsaida (casa de pesca em Hebraico), fundada em 2003 pelo engenheiro civil e pastor Edson Zaneripe, um senhor de 46 anos, cabelos longos e cavanhaque. Os fiéis são fãs de metal e “undergrounds” em geral, que discriminados por outras igrejas, na Betsaida encontram Jesus sem precisar cortar as madeixas ou arrancar os piercings.

Com a Bíblia aberta em uma passagem de Salomão o estudante do Colégio São José, Edson Mendes Jr, 16 anos, dá início ao encontro assim que o Pastor Edson chega ao local. “Deus, muito obrigado pela nossa vida, perdoai-nos daquilo que fazemos e daquilo que pensamos. És muito poderoso, te manifeste aqui nesta noite Pai! Muito obrigado por tudo!”, reza o estudante que freqüenta a igreja há dois anos.

O culto segue animado. Orações individuais, coletivas, murmúrios abafados ao fundo. “Deus, você é lindo!”, grita uma jovem. Próximos à porta, dois adolescentes caminham solitários de um lado para o outro. De olhos fechados, como que em transe, mechem os lábios, mas não é possível ouvir o que eles falam. As preces só são interrompidas quando o pastor inicia uma reza para angariar recursos para a nova sede da igreja em Criciúma. “Deus, abra os corações de teus filhos para que eles nos ajudem a construir a tua casa”, diz o pastor enquanto alguns fiéis já se levantam rumo à cestinha do dinheiro.

A acadêmica de Direito da Unisul, Cristine Balsini, 21, é uma das fiéis a contribuir. Na igreja há dois anos, ela conta que antes de entrar na Betsaida chegou a ficar meses sem sair de casa com depressão. “Quando eu vim aqui e Deus falou comigo eu melhorei. Uma motivação nova para viver era tudo que eu precisava”, afirma. Já para a filha do pastor, a aluna do 3o ano da Escola Jovem, Franciele de Souza, 17 anos, comparar a vida antes e depois da igreja é impossível. “Sempre fomos ligados à religião então não tem como eu dizer o que mudou”, comenta a estudante que aos 14 anos pensou em deixar de ser evangélica. “Acho que é normal né, todo mundo nessa idade tem crise”.

A família de Franciele sempre participou de movimentos religiosos. O pastor Edson explica que a Betsaida surgiu para “pescar” jovens que poderiam “se perder” por não serem bem vistos na maioria das igrejas, mas que ela segue os ensinamentos convencionais de outras instituições evangélicas. “Seguimos o que diz a Bíblia, assim como outras religiões cristãs. A diferença é que nós não nos importamos com o jeito de ser da pessoa. É idiotice ligar se ela tem tatuagem, gosta de metal, é cabeludo e veste preto. Se vestisse rosa diriam que é coisa de boiola”, comenta rindo o pastor, que afirma que a igreja não condena os homossexuais, mas também não aprova a conduta. “Recebemos os homossexuais de braços abertos e fazemos o possível para ajuda-los a mudar de vida e encontrar o caminho de Deus”.

A Betsaida conta hoje com cerca de 30 membros em Tubarão e outros 15 em Criciúma. A maioria entre 15 e 25 anos, grande parte deles com histórico de depressão.

Friday, July 21, 2006

Pela TV não tem a mesma graça (Artigo - Guerra Israel x Líbano)

Eu não conhecia Udi Adam até hoje à tarde. Se tirarem algumas das medalhas que ele ostenta orgulhoso sob a farda militar e o quepe de general do exército israelense eu continuo sem reconhecê-lo se o vir de novo. Adam não tem o carisma de Yasser Arafat, de Lula, da Xuxa e de tantos outros ícones pops. O rosto comum e débil, uma mistura de príncipe Charles com Al Bundy, faz as palavras do discurso do comandante não surtirem o efeito desejado nem mesmo naqueles que acreditam na guerra. Um Bush em uma Casa Branca de baixo orçamento.

Adam ao aparecer na televisão hoje para os milhões de telespectadores em todo o mundo que acompanham na hora do almoço a saga de Israel contra o Líbano, anunciou que milhares de reservistas serão convocados para reforçar as ações ofensivas. "Nós precisamos mudar nosso pensamento. Vidas humanas são importantes, mas nós estamos em guerra, e isso custa vidas. Não vamos contar os mortos neste momento. Nós vamos chorar pelos mortos e encorajar os combatentes", disse, com a serenidade e certeza que só possuem aqueles cujo o seu está a milhas e milhas da reta.

Eu não imagino Adam chorando pelos mortos. Não acredito que nas raras vezes em que hoje ele passe perto das zonas de conflito, seus olhos se encham de lágrimas ao avistarem de relance partes de corpos de soldados rasos espalhadas sob o sol entre a areia e o sangue. Entre continências, fardas, medalhas e loucura imagino um Adam bobo alegre e tapado, que na hora de fazer a barba deve se olhar no espelho e em poses de monarca absolutista ter pensamentos megalomaníacos.

Não se sabe se estes reservistas convocados hoje por Adam estão dispostos ou não a sacrificar a vida por um pedaço de terra delimitado ao acaso entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo. Pode ser que eles se emocionem mais com o amor e a amizade do que com a estrela de Davi e o hino israelense. Talvez não vejam sentido no patriotismo e na religião. Talvez ao morrerem e sobre seu caixão se erguer a bandeira de Israel, do falso paraíso dos mártires, sintam raiva.

Saturday, July 01, 2006

E se tivesse sido pênalti... (Teoria conspiratória a respeito do Ronaldo e da derrota do Brasil)


“Felipão sabe de tudo, Parreira é um idiota”, afirma uma velha senhora de aproximadamente 1,20m de altura e aparência frágil, vestida com a camisa reserva número 9 da seleção. Esse é o som principal que ecoa através do salão da Rodoviária Municipal de Tubarão após a eliminação do Brasil da Copa do Mundo de 2006 frente a França por 1x0. A mulher caminha solitária e anuncia repetidas vezes, por entre as lágrimas e as sombras que se erguem sobre rostos tristes e corpos vestidos com variações de verde e amarelo, o apoio ao técnico da seleção portuguesa e o ódio por quem, na sua opinião, foi o responsável pelos seus sonhos terem sido encerrados nesse sábado em Frankfurt, na Alemanha.

Entre as outras pessoas o clima é de solidariedade. Um semi-luto coletivo quase cômico em que o silêncio na plataforma só é rompido pelos gritos da mulher e pela voz metálica e pausada que sai dos auto-falantes anunciando o horário do próximo embarque.

Na loja de produtos da Cidade do Leste, entre Dvd’s piratas e bonés Nike de procedência duvidosa, são discutidas teorias. “Isso foi comprado, e não foi barato não!”, informa o vendedor que já começava a retirar da vitrine uma série de bandeiras, relógios, camisas e penduricalhos nas cores nacionais. “O Ronaldo se vendeu, aquela mão gorda não me engana”, acusa.

A mão gorda a qual o comerciante se refere foi aquela levantada pelo robusto camisa 9 da seleção em direção à bola que acabara de entrar na grande área brasileira. Pênalti não marcado pelo juiz que poderia garantir a vitória francesa sobre o Brasil, novamente com a interferência decisiva de Ronaldo. Caso o juiz marcasse a penalidade e o gol francês saísse nesse lance e não no cruzamento de Zidane completado por Henry, em que Roberto Carlos ajeitava a meia, a acusação seria mais grave. E com certeza, do mesmo modo, não seria comprovada jamais.

O jornalista Juca Kfouri, adepto também a teorias conspiratórias, alertou recentemente no blog http://blogdojuca.blog.uol.com.br/index.html os interesses por trás de uma campanha não vitoriosa do Brasil, que giram em torno de alguns bilhões de dólares. O comerciante não está sozinho em seus questionamentos !
Poderiam não ser os árbitros, que recentemente andavam envolvidos com escândos de corrupção e manipulação de resultados, os encarregados de garantir que a Copa desse ano não viesse para o Brasil, aos quais Juca se referia, e sim os próprios jogadores ? Teria sido dinheiro, e não o amor a pátria ou graves problemas neurológicos, que fizeram o "Fenômeno" erguer a mão à bola, novamente podendo ser decisivo como em 98 para a eliminação do Brasil? O Galvão defende tanto o Ronaldo por motivos menos nobres que a amizade ou o amor? Perguntas sem respostas que atormentam o comerciante. Perguntar não ofende. Devia ter sido pênalti.

Thursday, June 22, 2006

A sangue frio (resenha)

A realidade apresenta histórias que de tão extraordinárias, a assimilação desses fatos como reais exige algum esforço. Essa aconteceu em Holcomb, cidadezinha de 270 habitantes, localizada nas planícies do Texas, na madrugada de 15 de novembro de 1959. Quatro estampidos de espingarda calibre 12 romperam o silêncio habitual “do lugar construído ao acaso próximo à fronteira com o Colorado, [...] e ao todo terminaram com seis vidas humanas”.

“A Sangue Frio”, obra máxima do escritor norte-americano Truman Capote, relata com uma riqueza impressionante de detalhes o massacre da família Clutter e a trajetória dos responsáveis pelo crime, Perry Smith e Dick Hickock até a morte por enforcamento. A tragédia foi conseqüência de um assalto frustrado a um suposto cofre dentro da propriedade dos Clutter, com aproximadamente 10 mil dólares. O cofre não existia e os assaltantes levaram da casa um binóculo, um rádio e alguns trocados. Antes de sair, mataram os quatro membros da família.

Através de perfis psicológicos detalhados e cenários descritos com precisão, a história se desenvolve entre as reações da comunidade local ao crime, as investigações da polícia e as aspirações, traumas e frustrações de Dick e Perry encerradas com a execução “na esquina”, – expressão que os condenados à morte usavam para se referir ao local onde se encontrava a forca – a primeira delas, na frente de Capote. Após a morte de Dick, o escritor vomitou duas vezes e se retirou do local antes de ouvir Perry dizer as últimas palavras :
- “Acho um absurdo tirar a vida de uma pessoa desta maneira. Não acredito na pena de morte, nem do ponto de vista moral nem legal. Não faria sentido pedir desculpa pelo que fiz. Seria até inadequado. Mas eu queria pedir. Eu peço desculpas”.

A obra apresenta, na parte final, um questionamento a respeito da pena de morte e do sistema judiciário norte-americano. Questionado sobre o tema, Dick falou :

- O que posso dizer sobre a pena de morte? Não sou contra. É vingança. E isso é uma coisa muito importante.

Para escrever o livro, Capote investigou o caso durante seis anos. Escreveu a mão (não usava gravador) 8 mil páginas de relatos, da população local, de advogados, detetives, psiquiatras, além dos próprios assassinos, a quem o escritor visitava freqüentemente no período em que eles estiveram presos. O resultado inaugurou um novo gênero literário : o romance de não-ficção, nas palavras do próprio autor.

Com uma narrativa entrecortada, composta de trechos como os que apresentam Perry e Dick planejando o crime e ao mesmo tempo o cotidiano de Herb, Bonnie e seus filhos Nancy e Kenyon Clutter prestes a serem assassinados, Capote passeia a vontade pela linha criada, em parte, por ele entre o jornalismo e a literatura. “A Sangue Frio” é uma obra-prima literária sem deixar de ser uma grande reportagem.

Thursday, June 15, 2006

Hans Magnus Enzenberger em seu livro “Elementos para uma teoria sobre os meios de comunicação”, sonhava com uma mídia democrática. Um lugar além dos interesses do capitalismo onde todos tivessem acesso à divulgação de idéias e não atuassem apenas como receptores de pensamentos manipulados. O escritor, principal representante da nova esquerda alemã, porém, não via a manipulação como algo intrinsecamente ruim. Ao contrário, acreditava que “um esboço revolucionário não deveria fazer desaparecer os manipuladores, mas sim transformar cada um de nós em manipulador”.

Apesar do caráter pejorativo que a palavra possui, devido, em parte, por décadas de análises e discursos inflamados de líderes sindicais, aqui ela não será substituída. Faltam manipuladores na mídia, ou ao menos manipuladores que atuem de forma clara. Que expressem opiniões como opiniões e não sob a confortável sombra da imparcialidade e objetividade fajutas que as matérias jornalísticas proporcionam.

Opinar tornou-se algo raro na maioria dos veículos de comunicação. Nessas eleições a rede Globo proibiu todas as suas emissoras afiliadas de exibirem comentários políticos. O jornalista Cláudio Prisco Paraíso afirmou recentemente que foi demitido do jornal O Estado e do SBT por pressões do governo. Exemplos não faltam.

Se Enzenberger e a teoria marxista para os meios de comunicação buscavam o acesso democrático à divulgação de idéias e opiniões, o que acontece é o contrário. Cada vez se vê menos independência e opinião (em assuntos que não sejam Copa do Mundo ou a novela) na mídia. O vínculo de veículos de comunicação de massa como a televisão e o rádio à política e a patrocinadores se não chega a censurar manifestações contrárias a seus interesses, deixa isso subentendido. Não existe mais censura. O poder do governo e do capital já não conduz aos porões da ditadura os que se manifestem contra o sistema, mas sim ao ostracismo e ao desemprego.

Thursday, May 04, 2006

Encontro discute a imigração alemã na região de Tubarão

Encontro discute a imigração alemã na região de Tubarão


Século XVIII, Europa. A revolução industrial traz para as cidades, envolto no ideal de progresso, o desemprego. Nos campos, o solo pouco produtivo devido a constante exploração já não garantia a sobrevivência. Foi nesse cenário de pobreza e fome que diversas famílias alemãs atravessaram o Atlântico rumo à região de Tubarão. “A miragem do paraíso Sul-americano, com terras de graça, sementes e ferramentas eram condições que acabaram se impondo às últimas resistências emotivas e convidavam para a aventura”, no relato do imigrante Mathias Schimitz ao escritor Toni Vidal Jochem. Quase 200 anos depois, os traços germânicos na cultura regional permanecem.
A valorização e o resgate dessa cultura foram os temas do “I Encontro de Estudo sobre a Imigração Alemã nos Vales dos Rios Braço do Norte e Capivari”, realizado, dia 3 de maio, no auditório da Copobrás, em São Ludgero. O evento foi promovido pelo Instituto Carl Hoepcke (ICH), em parceria com a Unisul e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional (SEDR).
Cerca de 250 pessoas participaram do encontro, entre eles, acadêmicos e professores dos cursos de História e Letras, além do vice-reitor da Unisul, Salésio Herdt. Através de palestras com pesquisadores do tema, foi traçado um panorama da colonização alemã na região. “Foram abordadas a origem e a formação étnica do povo que aqui habita, e o modo pacífico como habitam, além de todo o desenvolvimento de um estado industrial vinculado à colonização”, explica o mestre em História Jochem.
De acordo com a representante da SEDR, Lílian Guedes, estudos e projetos ligados à colonização alemã ainda são raros na região. “Existem discussões sobre os italianos, os negros, mas a imigração alemã ainda carecia de algo semelhante”, comenta a Gerente de Programas e Ações de Cultura, Esporte e Lazer da SEDR.


Palestras abordam cada cidade da região

Pesquisadores de São Ludgero, São Bonifácio, São Martinho, Gravatal, e de outros municípios do vale de Braço do Norte e Capivari apresentaram estudos e demonstraram através de slides a influência alemã na cultura catarinense. O professor do curso de História da Unsiul, Arilton Teixeira, foi um dos palestrantes e falou sobre os alemães em Tubarão. “Tubarão foi o local dispersor das comunidades germânicas. Através de Tubarão, vindos de Laguna, que os colonizadores partiram para outras localidades, e ainda hoje é visível nas construções a importância dos alemães no desenvolvimento da cidade”, comenta o professor.
Esse foi o segundo evento desenvolvido pelo ICH, o primeiro envolveu a região de Florianópolis. Fundado há dois anos, o instituto é direcionado à preservação da herança cultural deixada pelos imigrantes alemães em Santa Catarina. Para a presidente e bisneta de Carl Hoepcke, Anita Hoepcke da Silva, eventos como esse são de grande importância para a divulgação e aprendizado da história catarinense. “Nós queremos participar dos movimentos das comunidades que tiveram colonização alemã, relembrar sua história e sua cultura. O evento em São Ludgero foi fundamental para esse objetivo”, afirmou a presidente.