depósito 86

Uma vez alguém me disse que é importante ter um lugar onde se possa despejar tudo o que se pensa. Seja no psicólogo, pra um cachorro, uma tia velha surda, um diário, um site.... desse modo você estaria poupando as pessoas de ouvirem isso. Esse blog segue essa filosofia

Friday, July 21, 2006

Pela TV não tem a mesma graça (Artigo - Guerra Israel x Líbano)

Eu não conhecia Udi Adam até hoje à tarde. Se tirarem algumas das medalhas que ele ostenta orgulhoso sob a farda militar e o quepe de general do exército israelense eu continuo sem reconhecê-lo se o vir de novo. Adam não tem o carisma de Yasser Arafat, de Lula, da Xuxa e de tantos outros ícones pops. O rosto comum e débil, uma mistura de príncipe Charles com Al Bundy, faz as palavras do discurso do comandante não surtirem o efeito desejado nem mesmo naqueles que acreditam na guerra. Um Bush em uma Casa Branca de baixo orçamento.

Adam ao aparecer na televisão hoje para os milhões de telespectadores em todo o mundo que acompanham na hora do almoço a saga de Israel contra o Líbano, anunciou que milhares de reservistas serão convocados para reforçar as ações ofensivas. "Nós precisamos mudar nosso pensamento. Vidas humanas são importantes, mas nós estamos em guerra, e isso custa vidas. Não vamos contar os mortos neste momento. Nós vamos chorar pelos mortos e encorajar os combatentes", disse, com a serenidade e certeza que só possuem aqueles cujo o seu está a milhas e milhas da reta.

Eu não imagino Adam chorando pelos mortos. Não acredito que nas raras vezes em que hoje ele passe perto das zonas de conflito, seus olhos se encham de lágrimas ao avistarem de relance partes de corpos de soldados rasos espalhadas sob o sol entre a areia e o sangue. Entre continências, fardas, medalhas e loucura imagino um Adam bobo alegre e tapado, que na hora de fazer a barba deve se olhar no espelho e em poses de monarca absolutista ter pensamentos megalomaníacos.

Não se sabe se estes reservistas convocados hoje por Adam estão dispostos ou não a sacrificar a vida por um pedaço de terra delimitado ao acaso entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo. Pode ser que eles se emocionem mais com o amor e a amizade do que com a estrela de Davi e o hino israelense. Talvez não vejam sentido no patriotismo e na religião. Talvez ao morrerem e sobre seu caixão se erguer a bandeira de Israel, do falso paraíso dos mártires, sintam raiva.

Saturday, July 01, 2006

E se tivesse sido pênalti... (Teoria conspiratória a respeito do Ronaldo e da derrota do Brasil)


“Felipão sabe de tudo, Parreira é um idiota”, afirma uma velha senhora de aproximadamente 1,20m de altura e aparência frágil, vestida com a camisa reserva número 9 da seleção. Esse é o som principal que ecoa através do salão da Rodoviária Municipal de Tubarão após a eliminação do Brasil da Copa do Mundo de 2006 frente a França por 1x0. A mulher caminha solitária e anuncia repetidas vezes, por entre as lágrimas e as sombras que se erguem sobre rostos tristes e corpos vestidos com variações de verde e amarelo, o apoio ao técnico da seleção portuguesa e o ódio por quem, na sua opinião, foi o responsável pelos seus sonhos terem sido encerrados nesse sábado em Frankfurt, na Alemanha.

Entre as outras pessoas o clima é de solidariedade. Um semi-luto coletivo quase cômico em que o silêncio na plataforma só é rompido pelos gritos da mulher e pela voz metálica e pausada que sai dos auto-falantes anunciando o horário do próximo embarque.

Na loja de produtos da Cidade do Leste, entre Dvd’s piratas e bonés Nike de procedência duvidosa, são discutidas teorias. “Isso foi comprado, e não foi barato não!”, informa o vendedor que já começava a retirar da vitrine uma série de bandeiras, relógios, camisas e penduricalhos nas cores nacionais. “O Ronaldo se vendeu, aquela mão gorda não me engana”, acusa.

A mão gorda a qual o comerciante se refere foi aquela levantada pelo robusto camisa 9 da seleção em direção à bola que acabara de entrar na grande área brasileira. Pênalti não marcado pelo juiz que poderia garantir a vitória francesa sobre o Brasil, novamente com a interferência decisiva de Ronaldo. Caso o juiz marcasse a penalidade e o gol francês saísse nesse lance e não no cruzamento de Zidane completado por Henry, em que Roberto Carlos ajeitava a meia, a acusação seria mais grave. E com certeza, do mesmo modo, não seria comprovada jamais.

O jornalista Juca Kfouri, adepto também a teorias conspiratórias, alertou recentemente no blog http://blogdojuca.blog.uol.com.br/index.html os interesses por trás de uma campanha não vitoriosa do Brasil, que giram em torno de alguns bilhões de dólares. O comerciante não está sozinho em seus questionamentos !
Poderiam não ser os árbitros, que recentemente andavam envolvidos com escândos de corrupção e manipulação de resultados, os encarregados de garantir que a Copa desse ano não viesse para o Brasil, aos quais Juca se referia, e sim os próprios jogadores ? Teria sido dinheiro, e não o amor a pátria ou graves problemas neurológicos, que fizeram o "Fenômeno" erguer a mão à bola, novamente podendo ser decisivo como em 98 para a eliminação do Brasil? O Galvão defende tanto o Ronaldo por motivos menos nobres que a amizade ou o amor? Perguntas sem respostas que atormentam o comerciante. Perguntar não ofende. Devia ter sido pênalti.