Betsaida - O heavy metal ao Senhor
Nenhuma placa informa quem passa pela avenida Beira-Rio, em Tubarão, próximo à rodoviária antiga, que aquela velha construção de concreto e pedra é mais uma entre as tantas casas evangélicas do Senhor.
Na porta de entrada uma cortina escura ofusca a luz fluorescente que sai da sala principal, onde dez jovens de roupa preta e cabelo comprido conversam descontraídos à espera do pastor. À frente deles, um palco com guitarras, amplificadores e bateria ocupa o lugar destinado em outros templos ao altar. Sobre o chão de cerâmica e entre as paredes negras, cinco fileiras de cadeiras de plástico, dessas de barzinho, ainda se encontram vazias.
É a Igreja Betsaida (casa de pesca em Hebraico), fundada em 2003 pelo engenheiro civil e pastor Edson Zaneripe, um senhor de 46 anos, cabelos longos e cavanhaque. Os fiéis são fãs de metal e “undergrounds” em geral, que discriminados por outras igrejas, na Betsaida encontram Jesus sem precisar cortar as madeixas ou arrancar os piercings.
Com a Bíblia aberta em uma passagem de Salomão o estudante do Colégio São José, Edson Mendes Jr, 16 anos, dá início ao encontro assim que o Pastor Edson chega ao local. “Deus, muito obrigado pela nossa vida, perdoai-nos daquilo que fazemos e daquilo que pensamos. És muito poderoso, te manifeste aqui nesta noite Pai! Muito obrigado por tudo!”, reza o estudante que freqüenta a igreja há dois anos.
O culto segue animado. Orações individuais, coletivas, murmúrios abafados ao fundo. “Deus, você é lindo!”, grita uma jovem. Próximos à porta, dois adolescentes caminham solitários de um lado para o outro. De olhos fechados, como que em transe, mechem os lábios, mas não é possível ouvir o que eles falam. As preces só são interrompidas quando o pastor inicia uma reza para angariar recursos para a nova sede da igreja em Criciúma. “Deus, abra os corações de teus filhos para que eles nos ajudem a construir a tua casa”, diz o pastor enquanto alguns fiéis já se levantam rumo à cestinha do dinheiro.
A acadêmica de Direito da Unisul, Cristine Balsini, 21, é uma das fiéis a contribuir. Na igreja há dois anos, ela conta que antes de entrar na Betsaida chegou a ficar meses sem sair de casa com depressão. “Quando eu vim aqui e Deus falou comigo eu melhorei. Uma motivação nova para viver era tudo que eu precisava”, afirma. Já para a filha do pastor, a aluna do 3o ano da Escola Jovem, Franciele de Souza, 17 anos, comparar a vida antes e depois da igreja é impossível. “Sempre fomos ligados à religião então não tem como eu dizer o que mudou”, comenta a estudante que aos 14 anos pensou em deixar de ser evangélica. “Acho que é normal né, todo mundo nessa idade tem crise”.
A família de Franciele sempre participou de movimentos religiosos. O pastor Edson explica que a Betsaida surgiu para “pescar” jovens que poderiam “se perder” por não serem bem vistos na maioria das igrejas, mas que ela segue os ensinamentos convencionais de outras instituições evangélicas. “Seguimos o que diz a Bíblia, assim como outras religiões cristãs. A diferença é que nós não nos importamos com o jeito de ser da pessoa. É idiotice ligar se ela tem tatuagem, gosta de metal, é cabeludo e veste preto. Se vestisse rosa diriam que é coisa de boiola”, comenta rindo o pastor, que afirma que a igreja não condena os homossexuais, mas também não aprova a conduta. “Recebemos os homossexuais de braços abertos e fazemos o possível para ajuda-los a mudar de vida e encontrar o caminho de Deus”.
A Betsaida conta hoje com cerca de 30 membros em Tubarão e outros 15 em Criciúma. A maioria entre 15 e 25 anos, grande parte deles com histórico de depressão.